Natal sem luz – Parte III: Terra do Sol

Por: “Juscelino Santos

Leia o capítulo anterior: “Natal sem luz – Parte II

Agora, a Terra da Luz era só escuridão! Um caos sem precedentes tomava conta das ruas, dos bairros, das cidades… e se alastrava! Pouco a pouco, aquilo tomaria proporções mundiais. Antes se pensava que era somente culpa do governo, mas aos poucos se percebeu que era mais que isso!!

A tristeza abatia o coração do mais otimista, a esperança se esvaía como um líquido volátil exposto a um ambiente sem controle. As almas frias e murchas parecem que nunca sentiram outrora outro sentimento senão desamor. Enzo não reconhecia mais sua família. Antes alegres, extrovertidos e brincalhões (os peidos são a prova mais concreta disso), agora eram cascas frias e sem vida. De repente, nas ruas, algumas pessoas paravam e parecia que era como se toda a sua vida fosse sugada. Mas não era assim com todos que eram afetados pela escuridão total… Outros, ficavam com um instinto de destruição e, por isso, invadiam lojas quebrando as vidraças pra saquear os produtos, tocavam fogo nos carros… 

Somente uma pequena porção dessas pessoas não era atingida pelas consequências da escuridão total. Ao perceber isso, Enzo pensou: Será que essa escuridão é realmente falta de energia? Ou a ausência dessa luz também afetava a alma das pessoas? O que será que está acontecendo? Enzo, viajava em seus pensamentos quando um clarão toma conta da rua, em sua direção alguns “surtados” correm eufóricos na direção da ambulância que acabara de pegar fogo. 

Enzo percebe que alguns dos “sem alma” correm perigo, pois não tem ação de se proteger das chamas. Enzo vê sua vizinha Ariely, por quem tinha uma paixão secreta e há tempos a seguia no insta (mas que nunca teve coragem de se declarar) ser quase atingida pelos estilhaços da explosão. Corre em sua direção e consegue tirar a garota da zona de perigo. Agora ela parecia uma boneca de pano. Parada ali, nem parecia aquela menina elétrica que vivia em seu quarto gravando vídeos para o tiktok, e só nessa plataforma já tinha mais 30 mil seguidores. Que bizarro!!! Nada daquilo importava mais! Tudo era supérfluo e sem sentido. 

Mas ainda havia aqueles que, por algum motivo, não tinham sido atingidos pelas consequências da escuridão total. As crianças, por exemplo, estavam desesperadas, chorando por seus pais e mães, mais ainda detinham a sua sanidade. Alguns adolescentes e jovens e até adultos pareciam ser imune a essa doença que assolava a terra da luz. Enzo começa então a perceber esses padrões. Na sua rua, um grupo de amigos que jogavam Free Fire online, Jhonatan, Sebastiam e Victor se aproximam de Enzo. Foi quando Jhonatan com uma voz embaçada e mórbida diz: 

-Esse é um ataque em escala global! Já consertei um radio antigo do meu avô e consegui contato de rádio. Me parece que é o único instrumento de comunicação que ainda funciona e por todo o mundo, a escuridão total está acontecendo com as mesmas consequências que aqui. Antes alguns achavam que era um ataque cibernético de hakers, uma tentativa de golpe mundial, mas depois tem relatos vindos de todos os continentes do surgimento de estruturas no céu, ou seja, ovnis sobrevoando as grandes capitais. Um grupo de africanos conseguiu abater um deles na Cidade do cabo, África do Sul e um deles relata que eles são extraterrestres com a aparência humanoide de estatura baixa, orelhas pontudas e tom da pele azulada. Precisamos fazer alguma coisa! – Disse ele! Victor complementou: 

-Meus pais estão trancados em casa, sentados no sofá, em frente a TV, que como vocês sabem não funciona. E eu quero eles de volta. Chatos, pegando no meu pé, me controlando o tempo todo… Mas quero de volta! Nisso, seu olho começa a lacrimejar e sua voz embaça do nada. Sebastiam coloca seu braço no ombro do amigo na tentativa de acalmá-lo e concorda com o garoto:

-Só nós podemos fazer alguma coisa, só restou a gente!!! Eu sugiro que a gente junte tipo, a maior quantidade de pessoas que estiverem conscientes e que não foram atingidos pela escuridão total no estádio de futebol, aqui no final da avenida, pra gente traçar um plano…

Antes de terminar a frase, um ruído ensurdecedor rasga os céus e surge no horizonte, uma grande nave num tom acinzentado. Todos colocam as mãos nos ouvidos querendo conter a dor, o que parecia impossível. A nave era algo jamais visto, no formato hexagonal e pontas revestindo o casco como as de um ouriço. Vinda na direção do bairro, pairando perto da praça de eventos, a nave para de emitir o barulho e se prepara para pousar. Seria esse o fim da raça humana como era conhecida? 

Enzo e seus amigos agora procuravam algo pra se defender e ao mesmo tempo atacar aqueles seres que estavam ali, pois com certeza não vinham em paz. Outro ruído então começa e uma abertura lateral se abre de forma lenta. Lá dentro, uma sombra se formava vindo das luzes da própria nave. O que seria?

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